Ser é ser percebido: significado da frase

A filosofia é um campo vasto e intrigante, no qual diversas mentes brilhantes se debruçaram sobre questões fundamentais da existência humana. George Berkeley, filósofo irlandês do século XVIII, é uma dessas figuras marcantes. Ele é amplamente reconhecido por sua frase emblemática: “Ser é ser percebido” (em latim, “Esse est percipi”). Neste artigo, exploraremos o significado por trás dessa afirmação e analisaremos como ela se encaixa no contexto do idealismo de Berkeley, sua relevância e aplicação na filosofia moderna e as críticas que enfrentou.

O idealismo de George Berkeley

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Para entender a frase “Ser é ser percebido”, é fundamental compreender o idealismo, corrente filosófica defendida por Berkeley. O idealismo de Berkeley, também conhecido como “idealismo subjetivo” ou “imaterialismo”, nega a existência de uma realidade material independente da percepção humana. Em outras palavras, para Berkeley, tudo o que existe são mentes e ideias percebidas por essas mentes.

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A frase “Ser é ser percebido”

A afirmação de Berkeley, “Ser é ser percebido”, sustenta que a existência de algo é intrinsecamente ligada à sua percepção. Isso significa que, se algo não é percebido por uma mente, ele não existe. Para Berkeley, a realidade é composta apenas de experiências e percepções, sem a necessidade de uma substância material que as sustente. Ele argumentava que a ideia de matéria era uma abstração desnecessária e incoerente, uma vez que o que experimentamos são as qualidades sensíveis, como cores, sons, cheiros, e não a suposta matéria que as causaria.

Aplicações do “Ser é ser percebido” na filosofia moderna

A filosofia de Berkeley teve um impacto profundo no pensamento filosófico subsequente, especialmente nas áreas da epistemologia e da metafísica. Sua negação da existência de uma realidade material independentemente da percepção inspirou diversos debates sobre a natureza da realidade, a relação entre mente e corpo, e o papel do observador na construção da realidade.

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Além disso, sua ideia de que a realidade é composta apenas de percepções e experiências influenciou a fenomenologia e a filosofia da mente. Por exemplo, a noção de que nossa experiência da realidade é mediada por nossas percepções e pensamentos encontra paralelos na filosofia de Immanuel Kant, que defendia que o conhecimento é moldado por nossa estrutura cognitiva.

Críticas ao “Ser é ser percebido”

Apesar de seu impacto, a filosofia de Berkeley também enfrentou várias críticas. Uma das objeções mais comuns é o argumento do “mundo externo”, que questiona como objetos inanimados podem ser percebidos e, portanto, existir, sem a presença de um observador humano. Berkeley respondeu a essa crítica afirmando que Deus, como uma mente onipresente e onisciente, percebe constantemente tudo o que existe, garantindo a continuidade da existência dos objetos mesmo quando não percebidos por mentes humanas.

Outra crítica importante diz respeito à dificuldade de conciliar a negação da existência de uma realidade material com a percepção intersubjetiva. Se a realidade é inteiramente subjetiva e dependente das percepções individuais, como é possível que diferentes pessoas concordem sobre aspectos do mundo compartilhado? Berkeley tentou resolver essa questão apontando novamente para o papel de Deus como a fonte unificadora das percepções e experiências individuais.

Além disso, alguns filósofos defendem a existência de uma realidade material independente da percepção como uma explicação mais simples e parcimoniosa para a experiência humana. Eles argumentam que a introdução de Deus como garantidor da existência dos objetos é uma solução ad hoc e pouco convincente, especialmente em comparação com explicações mais simples, como o realismo científico, que considera a existência de um mundo físico externo independentemente da percepção.

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Implicações do “Ser é ser percebido” na ciência e na ética

A filosofia de Berkeley também tem implicações interessantes na ciência e na ética. No campo da física quântica, por exemplo, a noção de que a realidade é dependente da percepção encontra ecos no princípio do observador, que sugere que a natureza das partículas quânticas é influenciada pela observação. Embora a relação entre a filosofia de Berkeley e a mecânica quântica seja complexa e indireta, o questionamento da existência de uma realidade objetiva independente da percepção é uma preocupação compartilhada por ambas as áreas.

No campo da ética, a filosofia de Berkeley também traz à tona questões interessantes. Se a existência dos objetos é intrinsecamente ligada à percepção, isso pode levar a uma maior responsabilidade moral sobre nossas ações e percepções em relação ao mundo ao nosso redor. Por exemplo, podemos ser incentivados a adotar uma postura mais cuidadosa e consciente em relação ao meio ambiente e aos outros seres vivos, já que nossa percepção deles contribui para sua existência e bem-estar.

O legado de George Berkeley

O legado de George Berkeley transcende a filosofia e se estende a várias áreas do conhecimento. Sua contribuição para o pensamento filosófico foi vital para o desenvolvimento de correntes como o empirismo e o idealismo, e suas ideias continuam a inspirar debates e reflexões no campo da filosofia.

Além disso, sua ênfase na percepção e na experiência humana ajudou a moldar o pensamento moderno sobre a relação entre mente e corpo e a natureza do conhecimento. Sua influência pode ser vista em áreas tão diversas como a psicologia, a teoria da ciência e a ética, destacando a importância duradoura de seu trabalho.

A frase “Ser é ser percebido” de George Berkeley levanta questões fundamentais sobre a natureza da realidade e da percepção humana. Embora sua filosofia idealista tenha enfrentado críticas e objeções, ela continua a ser uma perspectiva influente na filosofia ocidental e tem implicações importantes para áreas como a epistemologia, a metafísica e a filosofia da mente.

Ao negar a existência de uma realidade material independente da percepção, Berkeley nos desafia a repensar nossa compreensão do mundo e da experiência humana, levando a debates filosóficos contínuos e enriquecedores. Embora possamos não concordar com todas as suas conclusões, a importância de Berkeley na história da filosofia é inegável e sua contribuição para o pensamento filosófico continua a ser estudada e debatida até hoje.

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